O que é a depressão?
É isso.
Um nada.
Um vazio no existir.
É um luto inacabado de um passado insatisfeito.
É um luto suspenso que se prende e arrasta o passado ao tempo presente e futuro, porque sem um luto, o “objeto” perdido permanece vivo, eternizado estaticamente, que faz sobrar a nostalgia que vai consumindo o que existe à sua volta.
São demasiados dias na ausência da criação.
É hibernar o presente.
É personificar-se numa culpa sem desculpa.
É a repetição do passado por teimosia de uma saudade que aprisiona.
É uma perda desvalorizante e culposa.
É sentir, por vezes sem o saber, mal-amado/a.
É estar vivo sem ser vida.
Será interessante distinguir a “depressão clássica” da “depressão sem depressão”:
Depressão clássica:
É uma laranjeira que não brota laranjas.
É olhar num só sentido.
É desistir por não tentar para evitar a depressão.
É um estado de abatimento quase sempre.
É sentir-se mal-amado, e crer que deve a não saber amar.
É ser noite o dia todo.
A depressão sem depressão:
É uma laranjeira que cresceu a fertilizantes químicos e que por isso vai degradando o seu solo.
É ver sem olhar.
É ceder eminentemente à “loucura da censura”.
É uma insatisfação latente eternizada pela relatividade.
É nunca desistir para evitar a depressão.
É não poder deprimir.
É sentir-se mal-amado sem o saber.
É ser dia o dia todo.
E podemos ainda distinguir a depressão psicótica:
É uma dor sem nome enquistada no peito. Aterrorizante.
É uma falta incompreensível e intolerável.
É a intelectualização da vida por não ter condições de a sentir.
É um buraco no Eu por falta de um “objeto” interno suficientemente securizante e coerente. Por falta de amor.
É estar só, dentro de si.