Se me tivesses dito eu não sabia

Se me tivesses dito eu não sabia

Se me tivesses dito seria tudo tão diferente.

Porque enquanto não fui crescido, quis crescer à velocidade da luz. Para chegar a ti. Pai. E por não saber, cheguei a acreditar que se ouvisse tudo aquilo que os crescidos (como tu) me diziam e o aplicasse à risca no espaço da nossa realidade, conseguiria encontrar o elixir da existência, ou pelo menos uma espécie de manual de instruções da vida.

Mas, enquanto me atirava de cabeça até ao céu e mais além, seguro, de que as instruções me guiassem e voassem por mim, sem dar por isso, a realidade atingiu-me como um cometa. E… sem mais nem menos, mas por mais ou por menos: dei por mim ainda vivo. Atordoado, mas vivo. E perguntando baixinho sem ninguém me ouvir “Porque é que não me disseste?! Sim pai… Porque é que não me avisaste? E nem um segundo depois, olhando-me através de ti, lembrei-me das metáforas escondidas nos teus olhares fundos que se perpetuam até hoje em mim, como se falasses por reflexos e eu até hoje ainda ouvisse o eco dos teus olhares.

Sim Pai! Eu vejo o que dizes. Ainda vejo.

Se me tivesses dito eu não sabia. Porque eu não teria corrido até ao céu se não soubesse que me apanhavas. Eu não te teria ouvido se não soubesse que também me ouvias.

E eu sei.

Que o teu silêncio por vezes, carrega menos palavras do que eu gostaria, mas no fundo ensinaste-me que quando estamos atentos podemos falar como os demais animais e que não precisamos de muitas palavras para nos sabermos.

O teu silêncio ensinou-me a ler.

Se me tivesses dito eu não sabia.

Mas, Mãe

Se não me tivesses dito eu não sabia

Isto é, quando a base é forte, por vezes nem se nota, já quando ela sai do seu lugar parece que nada se segura.

Se não me tivesses dito eu não sabia andar. Se não me tivesses dito, eu não teria corrido na direção contrária a ti, desbravando as novas portas que nem tu conheceras (só porque não te apeteceu claro). Se não me tivesses dito eu seria quase paralítico, não por decisão da minha cervical, mas por decisão da minha livre falta de vontade.

Se não me tivesses dito eu não sabia.